Resenha: Max, de Sarah Cohen-Scali, por Michelle Pereira








Ficha Técnica:
Título: Max
Autor: Sarah Cohen-Scali
Editora: Jangada
Ano de Lançamento: 2018

Gênero: Ficção
Páginas: 392
Preço Médio: R$42

Exemplar físico cedido pela editora.


Oi oi! Tudo bem, pessoal?

Como está o verão de vocês? Aqui em Minas o calor tá de matar (referência musical? hahaha) e eu doida com uma prainha, um marzinho, uma aguinha geladinha pra entrar... Mas nada de férias, por enquanto :(

Mudando de assunto, a resenha de hoje é complicada e pode ser que vocês venham a odiar o protagonista, assim como eu. Talvez... 

Ou talvez vocês cheguem a amá-lo. 

No final.

Chega mais, vamos conhecer Max, um dos últimos lançamentos do nosso parceiro, o Grupo Editorial Pensamento, pelo selo Jangada.

Alguém por aqui que goste da história por trás da Segunda Guerra Mundial? Eu gosto bastante. Porém, dessa vez, vamos conhecer alguns fatos através dos olhos de alguém que acompanhou tudo de perto: Max. Ou melhor, Konrad. Ele não gosta de Max.

Ainda na barriga de sua mãe, esse bebê mostra toda a sua sagacidade e inteligência. Ele sabe de tudo que acontece e não tem medo de falar, muito menos diz meias verdades.

Concebido sem amor. Sem Deus. Sem lei. Sem nada além da força e da raiva. Morderei em vez de sugar. Barrarei em vez de balbuciar. Odiarei em vez de amar. Heil Hitler!

Konrad será concebido por meio do projeto nazista Lebensborn, que combina os melhores indivíduos alemães para a criação da nova raça ariana: pura, forte como aço, milimetricamente perfeita. 

Para sua sorte, ele é o primeiro a nascer (desbancando um concorrente que ficou enroscado no cordão umbilical), o mais agraciado, o melhor. E ele é batizado pelo próprio Führer em pessoa, Hitler. (Aliás, fez xixi no homem durante a cerimônia haha).

Konrad tem orgulho de ser quem é. De ser nazista, de estarem certos em matar judeus, afinal, eles são a escória, não é? Ele é orgulhoso, arteiro, inferniza as enfermeiras do Heim (uma espécie de retiro/sítio, afastado da cidade, onde o Lebensborn é desenvolvido). Mas, ainda assim, ele tem suas inseguranças. Sempre que é examinado, Konrad tem medo de o dr. Ebner o considerar impuro, um ariano sem pedigree. Só que ele é perfeito... Seu crânio dolicocéfalo é perfeito, assim como seu cabelo loiro quase branco, seus olhos de um azul claríssimo. Ele é, certamente, perfeito.




Depois de um tempo, as mães são mandadas para longe. Ele e seus companheiros são soldados, não precisam de mães, nem pais, nem nada disso. Sua existência é apenas para servir ao Führer e a Alemanha. Só que, quando sua genitora se vai, ele sente falta dela. Ele sofre física e mentalmente.

Por um tempo.

Suas memórias infantis, tão voláteis, acabam por perder aquele vínculo (para ele, maldito).

Konrad poderia ser adotado, como seus companheiros o eram, por famílias de oficiais do mais alto cargo. No entanto, ele faz o que pode para isso não acontecer. Ele não quer passar de novo por aquilo: ligar-se a alguém e depois perdê-lo. Doí demais.

É por isso que, enquanto cresce, Konrad se torna uma amostra da nova raça ariana no Heim. A criança perfeita, imaculada. E ele está satisfeito com isso: ser o modelo.




Mais tarde, já com alguns anos, Konrad é levado à Polônia. Junto com as Braune Schwester, irmãs em vestidos marrons antiquados, ajuda a capturar novas crianças para o projeto Lebensborn. Elas não são puras como ele, mas são semelhantes. Como poderiam ser, sendo inferiores?

É estranho estar em vilarejos poloneses, quase completamente destruídos pela guerra, procurando por espécimes que podem se tornar verdadeiros alemães. Mas ele os está ajudando, não é? Ele tiraria aquelas crianças da miséria, elas não precisavam das mães, assim como ele. Mães são como lixo... Só que, talvez, aquelas crianças não quisessem ser resgatadas.




Depois desse trabalho, Konrad finalmente irá para o lugar em que sempre sonhou estar: uma napola! Ali ele seria educado com um verdadeiro soldado alemão: estudos, treinamento, exercícios, tudo para ser ainda mais perfeito para o Führer.

O problema é que ali ele conhece Lukas. O rapaz, tão parecido com ele, poderia se passar como um irmão mais velho. E não só fisicamente, O comportamento audacioso dos dois é idêntico. Só que Lukas é polonês e... Judeu?

Como poderiam haver judeus com aquela aparência perfeita? Eles eram a escória, eram insignificantes, deveriam ser exterminados. Isso intriga Konrad, assim como o orgulho que Lukas tem. São essas coisas que o fazem ansiar pelo contato com o garoto, pela sua atenção. E é também o que o faz questionar suas crenças, enraizadas desde que estava na barriga de sua mãe, sobre o nazismo, sobre o verdadeiro tom da guerra, sobre o seu amado Führer.




Max é um dos livros mais complexos que já li sobre a Segunda Guerra Mundial, porque, ao invés de estar sob a ótica das vítimas do nazismo, me coloca frente a frente com um belo espécime nazista. Konrad é odiável justamente por estar tão absorto dentro das ideias do Führer que não consegue enxergar além. Para nós, que estamos aqui de fora, e décadas depois daquela grande tragédia, é inadmissível que aquela matança ocorresse, mas para eles não. Era justificável. E é possível perceber isso pelos olhos do Konrad. Os judeus, principalmente, eram desconstruídos. Eles deixavam de ser humanos para serem o pior tipo de praga que havia pisado na Alemanha. Por isso, fazia sentido que fossem eliminados (Deus sabe a revolta que bate do meu coração só de escrever isso).

Só que, em determinado momento, ele começa a se questionar sobre todas as coisas que vive, embora tente sempre manter o Führer e o nazismo acima de toda a razão. Suas crenças são abaladas, principalmente, depois que Lukas entra em sua vida. Aquele garoto é diferente de tudo o que Konrad já havia conhecido e as ideias dele, as atitudes dele, e, até mesmo o carinho que Konrad começa a sentir por ele, começam a desmontar tijolo por tijolo toda as concepções de mundo que ele conhecia. É nesses momentos que eu colocava fé no Konrad e chegava a gostar dele.

Minha mãe é a Alemanha.O meu pai, o Führer!

É interessante esse tipo de sentimento que a Sarah conseguiu incutir em mim: de um doce vilão, alguém que odeio e amo ao mesmo tempo por conhecer seu âmago. Principalmente no fim, quando tenho o vislumbre do que Konrad poderá ser.

Certamente, Max é um livro complexo demais para uma resenha. E essa resenha está enooooorme de um tanto... O melhor conselho que tenho então é: leia esse livro. E leia com a mente aberta e pronto para sentir o que não quer sentir. Max é perturbador. 

A capa é super conceitual e encaixa muito bem com a história: um bebê, uma faixa nazista e marcações de medida, sugerindo a perfeição que cada nascido deveria ter, além, é claro, desse vermelhão, a cor da propaganda nazista. Não tem como se encaixar melhor! A diagramação é bem simples, do jeito que gosto. E a revisão está excelente!

Espero que tenham gostado!

Hugs 

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