quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Resenha: Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley









Ficha Técnica:
Título: Admirável Mundo Novo
Autor: Aldous Huxley
Editora: Globo de Bolso
Ano de Lançamento: 2010
Gênero: Literatura Estrangeira / Romance
Páginas: 380
Preço Médio: 17,90




Anos no futuro, o conceito de Deus foi abolido, bem como os conceitos de pai, mãe, casamento, família. Os seres humanos são reproduzidos em laboratório, óvulos são fecundados e divididos inúmeras vezes produzindo dezenas de gêmeos idênticos. Cada indivíduo pertence a uma casta própria, de acordo com seu grau de importância e trabalho na sociedade.

A infelicidade e a solidão não existem. Todos são condicionados desde a mais tenra idade à estarem satisfeitos por suas ocupações, que nunca mudarão. Eles foram feitos para aquela função e a elas estariam presos até suas mortes. Que, aliás, também são encaradas como um momento comum.

Não existem velhos. Todos estão presos à peles e corpos jovens. A mente também. Também permanece jovem e quase infantil.

Os valores foram todos invertidos. Ninguém pertence a um só alguém. São todos de todos. A monogamia não existe. Na realidade, é até mesmo tratada como algo extremamente errado. Não estar envolvido com diversas pessoas ao mesmo tempo é considerado um comportamento incomum e é abertamente desaprovado.

Qualquer problema pode ser resolvido com uma dose de soma. Não é necessário lidar  com sentimentos ruins como estresse, infelicidade, todos são facilmente esquecidos tomando um ou dois comprimentos de soma.

É neste mundo que Bernard vive. Porém, ele é diferente dos outros. É excluído, e tratado com desprezo. Por que ele simplesmente não consegue seguir os padrões? Por que não consegue achar normal tratar uma mulher como algo descartável? Por que se importa tanto com Lenina e com o que os outros homens que já a provaram falam sobre ela?

Mesmo que Lenina ache Bernard um cara esquisito, ainda sim aceita sair com ele. Principalmente porque está muito interessada em conhecer a reserva de humanos Selvagens nos Estados Unidos. Isso não é empolgante?

Mas não tão empolgante assim quando ela está lá, vendo os costumes arcaicos e aterrorizantes dos Selvagens, vendo seus rituais religiosos tão estranhos e improváveis numa sociedade de destituiu Deus de seu trono. É menos empolgante ainda quando Lenina conhece Linda, uma mulher que seria como ela, se não tivesse se perdido tanto tempo atrás na reserva e sofrido os efeitos do tempo. Para Lenina são repugnantes as rugas no rosto de Linda, seus dentes podres, seu corpo gordo.

Para Bernard essa é sua chance de vingança e de glória. Vingança ao levar Linda de volta e mostrá-la ao Diretor, que tanto fez para humilhá-lo e que prometera enviá-lo para a Islândia. Glória, pois levando o filho de Linda, John, um jovem criado em meio aos Selvagens, para a civilização e tentando inseri-lo lá, ele teria fama e todos os benefícios vindos com ela: amigos, mulheres, poder.

Porém, apesar de tudo sair com planejado inicialmente, Bernard vê seu tênue castelo de cartas desabar. John não se adapta aquela sociedade, não se adapta a ser cercado por todos a todo o momento, fazendo perguntas, sendo enxeridos, e embriagando-se, fugindo da realidade com o soma. John prega a liberdade destes indivíduos, mas como fazê-los entender um conceito tão absurdo quanto liberdade? Algo que eles sequer conhecem? E se não consegue isto, pelo menos que sua própria liberdade esteja garantida. Mas por quanto tempo e a que custo?

Mesmo sendo um livro extremamente antigo, Admirável Mundo Novo, se encaixa à nossa história atual de maneira perfeita. O comportamento superficial das pessoas, o consumismo exacerbado, a fuga da realidade através de alucinógenos. A pergunta para Admirável Mundo Novo não é “isso poderia acontecer?”, mas sim, “quando isso vai acontecer?”. Quando o governo vai tomar o poder sobre nossas vidas, sobre nossas mentes, quando eles vão definir diretrizes e encaixá-las em nosso subconsciente tão fundo que elas parecerão naturais? E mesmo que esse controle fosse justificável para manter a paz e a felicidade social, é certo retirar de você seu poder de escolha?

Admirável Mundo Novo é uma leitura que levanta várias questões: filosóficas, políticas, sociais. É difícil definir alguma palavra para este livro, mas tenho certeza de que todas as que eu poderia usar estariam no superlativo. Excelentíssimo, magnificentíssimo. Coisas desse gênero. Mas sobre tudo é necessário ter a mente aberta para aceitar aquilo que está sendo jogado ali naquelas linhas. Coisas, às vezes, difíceis de serem aceitas como certas.

Um ótimo livro, sem dúvida. Estão prontos pra ler?