O pássaro azul que habita Bukowski - Por Dayhara Martins






Henry Charles Bukowski Jr (nascido Heinrich Karl Bukowski; Andernach, 16 de agosto de1920 — Los Angeles, 9 de março de 1994) foi um poeta, contista e romancista estadunidense, nascido na Alemanha. Sua obra de caráter (inicialmente) obsceno e estilo totalmente coloquial, com descrições de trabalhos braçais, porres e relacionamentos baratos, fascinaram gerações que buscavam uma obra com a qual pudessem se identificar.


O Bluebird:



"há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu sou duro demais pra ele
eu digo, fica aí, não vou
deixar ninguém te
ver
há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu meto uísque nele e dou um
trago no meu cigarro
e as putas e os garçons
e os balconistas dos mercados
nunca percebem que
ele está
aqui dentro

há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu sou duro demais pra ele
eu digo,
fica quieto, você quer zoar
comigo?
quer ferrar com meu
trabalho?
quer acabar com a venda dos meus livros na
Europa?

há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu sou esperto demais, só o deixo sair
à noite, às vezes
enquanto todo mundo está dormindo
eu digo, eu sei que você está aí
não fique
chateado
então o ponho de volta
mas ele canta um pouco
aqui dentro, não o deixei realmente
morrer
e dormimos juntos
assim
no nosso
pacto secreto
e isso é o bastante pra
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, você
chora?"



 Bukowski sempre me cativou pelo poder da sua poesia, pela veracidade das palavras, o esporro de sentimentos que te atinge diretamente. Cada poema seu me afetava de uma foma diferente, mas nenhum me atingiu tanto quanto Bluebird.
 A primeira vez que o li, fiquei curiosa, quem seria seu pássaro azul? Elaborei uma teoria ridícula, e vamos explaná-la...
 Em um determinado trecho de sua biografia, é narrada a dor de Bukowski ao perder sua amada Jane(o grande amor de sua vida) que morreu nos seus braços, em um leito sujo, assim que ela faleceu ele levou o peixinho da amada para casa, bom homem que é, iria cuidar. Certo dia chegou em casa e o peixinho estava morto no chão, e naquele momento, foi a primeira vez que ele pensou realmente na possibilidade do suicídio. Ao meu ver, o pássaro azul nada mais é que esse peixinho, o desejo pela morte, que ele lutava periodicamente. Teoria louca, não?
 Em outro momento, Bluebird nada mais é que sua ânsia pela escrita, o tigre que arranha a jaula e pede para ser liberto, a poesia devastadora, que precisa ser mostrada ao mundo.
 Em uma terceira oportunidade, o pássaro azul é a mansidão de um homem conhecido pela sua rudeza. Provando que sim, Bukowski sofria por amor mais que qualquer outa coisa.
 As teorias são muitas, as minhas, as suas, as de todo mundo, ele não está aqui para solucionar esse enigma, o que posso dizer com toda certeza, é que todos os dias esse poema me afeta de uma forma diferente, é o grito de socorro de um sentimento desconhecido, é um pássaro delicado, que todas as noites se transforma em um dragão, e queima o peito feito vodka barata. Não há nada capaz de saciar essa fome de poesia que habita em Bluebird, mas sei que ele é o suficiente para deixar completa.


 PS: Deixo aqui uma versão fofa feita por Fernando Koproski, o tradutor desse poema, no livro Essa loucura roubada que não desejo a ninguém, a não ser a mim mesmo amém, pela editora 7 Letras.



8 comentários:

  1. Oi, tudo bem?

    Não sabia que tinha uma biografia do Bukowski, fiquei bastante interessada. Nunca li nenhuma obra completa dele, apenas alguns poemas avulsos. Bluebird é o que mais me tocou até agora, porque eu me sinto como esse poema o tempo inteiro. Gosto muito de tudo que é azul e também da simbologia que essa cor traz, uma espécie de melancolia, tristeza, sufocamento... Porque é quem sou por dentro. Quero demais tatuar "there is a bluebird in my heart that wants to get out" <333
    Adorei suas teorias, concordei com todas, aliás! :)

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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  2. Holy shit!
    Poucas vezes nessa vidinha breve minha eu testemunhei algo que pudesse realmente se colocar no patamar de "isso é algo que o velho safado escreveria".
    Bukowski pagaria por "o amor é um pássaro que as vezes se transforma em dragão e queima o peito como vodka barata".
    Real shit modofockaaa
    Inspirador!
    Nandopub

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  3. Ooi! Eu não conhecia este poeta, mas ele mostrou agora o quanto poemas podem ter diversos significados, não é? Eu gosto de escrever e de ler poemas, porque podemos notar a sensibilidade e como nos expomos nos mesmos. Os sentimentos são muitos!
    Beijos!

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  4. Confesso que não conheço muito Bukowski, sempre ouvi falar dele, mas nunca procurei ou li nada escrito por ele, mas esse poema mexeu comigo, achei incrível!
    Fiquei muito interessada e vou procurar por suas obras.

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  5. Nossa Daya amei a profundidade da sua teoria sobre a poesia, que é linda por sinal e muito triste.
    Eu sinceramente demorei pouco tempo lendo e não conheço muito do Bukowski, mas ouço muito falar e me pareceu um autor genial com as palavras.
    Mas olha, sem falsas palavras você foi incrível na sua resenha sobre.
    Beijos.

    Giuliana

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  6. Oiee,
    Nunca fui de ler e compreender poemas, não me lembro de professores me emsinando a gostar :(. Gostei da forma como deu sua opinião e mesmo nao gostasdo do estilo de escrita, acabei curiosa.

    Beijos da Fê
    As Catarina´s / Fanpage / Instagram

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  7. Oiee,
    Eu adoro poemas, achei lindo Bluebird!
    Não conheço muito do Bukowski, já ouvi falar mas nunca li nada dele. Adorei seu post, mergulhei em Bluebird, lindo demais. E a versão feita pelo Fernando tá fofa mesmo.
    Parabéns pela postagem, maravilhosa!

    Fernanda
    http://pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  8. Bukowski tem poemas de cortar o coração e trazer angústias esquecidas, mas são todos absurdamente lindos e podemos interpretar de várias maneiras <3. Acho que cada um interpreta de acordo com a fase de sua vida e cada um entende de uma forma diferente.

    Ainda não li nenhuma biografia dele e nem assisti ao filme, talvez por querer manter alguns sentimentos aonde estão, afastados. Mas, tenho certeza de que ambos são obras incríveis!

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